O que é refatoração de código? Por que a prática deve fazer parte da rotina de desenvolvimento?

A refatoração de código é uma reestruturação focada em otimizar todo o sistema. Saiba mais como fazê-la!

Refatoração de código é o processo por meio do qual se promovem alterações em um sistema, com a finalidade de otimizar seu design, sem alterar seu funcionamento. Quando bem executado, tende a gerar grandes benefícios para o sistema. Do contrário, pode causar transtornos.

Um dos “papas” da refatoração de código, Martin Fowler, conceituou em seu livro “Refatoração – Aperfeiçoando o Projeto de Código Existente”, que a refatoração é o processo de modificar um sistema de software para melhorar sua estrutura interna de código-fonte sem alterar seu comportamento externo.

Tanto o livro quanto esta afirmação vêm sendo seguidos à risca por muitos desenvolvedores de software, analistas de sistemas e engenheiros de software ao redor do mundo.

O problema encontrado nesta afirmação — e que será tratado neste artigo — trata da real aplicabilidade dessa técnica no dia a dia dos desenvolvedores de software atuais.

Afinal, como encaixar essa prática importante na vida real, considerando prazos apertados, projetos atrasados, cronogramas irreais, clientes estressados e gerentes de projeto à beira de um ataque de nervos?

Neste post, além de explicar o que é refatoração de código, também apresentaremos seus benefícios, técnicas e aplicabilidades. Aproveite o conteúdo!

O que é refatoração de código?

A refatoração de código nada mais é do que sua reestruturação, por meio de alterações pontuais, visando otimizar seu design sem alterar o funcionamento do sistema. O objetivo é mantê-lo limpo e operante, prevenindo sua deterioração com o tempo.

Em outras palavras, quando falamos em refatoração de código java, por exemplo, estamos nos referindo a pequenas mudanças, cujo objetivo é tornar o código mais simples, melhorando sua estrutura interna sem alterar suas funcionalidades.

Vale lembrar que, dentre os tipos de refatoração, temos:

  • refatoração de base de dados, cujo objetivo é melhorar o design;
  • refatoração de interface de usuário, realizada diante da necessidade de alteração da interface;
  • refatoração de código, realizada no código-fonte em si.

Quais são os benefícios da refatoração de código?

É inegável que refatorar código traz benefícios para o desenvolvimento de software. Poderíamos escrever páginas e mais páginas, detalhando esses benefícios e seus reais impactos no custo e prazo de um projeto.

Porém, vamos nos atentar aos principais — que sozinhos já seriam suficientes para justificar a utilização da técnica de refatoração de código:

1. Melhor entendimento do código

Sabe aquele código que, de tão complexo, só você entende? Ou aquele método que, devido ao prazo apertado, não deu tempo de colocar na classe correta? E aquele recurso técnico, que foi inserido para solucionar um problema que impossibilitava a utilização do sistema, e estava deixando o usuário louco? 

Pois é, durante a refatoração, é quando procuramos eliminar esses pontos e, com isso, melhorar o entendimento do nosso código, para que as futuras gerações de desenvolvedores possam dar manutenção a ele.

2. Facilidade de Manutenção

Esse benefício está diretamente ligado ao anterior. Inevitavelmente, um software vai precisar de manutenções ao longo de seu ciclo-de-vida, seja por novos requisitos, por mudanças das regras ou por atualização tecnológica.

Podemos dizer que não existe nada mais complicado do que fazer manutenção em um código-fonte de difícil compreensão. Você concorda?

Diante disso, a refatoração auxilia a entender melhor o código que, por sua vez, traz maior facilidade de manutenção.

3. Possibilidade de aprendizado

Outro benefício da refatoração está na possibilidade de aprendizado que essa técnica oferece para programadores menos experientes. Ao praticá-la, estes podem adquirir conhecimento sobre as regras que regem o sistema e, com isso, agregar experiência para futuras implementações.

4. Possibilidade de encontrar defeitos no código

Também vale mencionar que a refatoração pode contribuir para encontrar defeitos “escondidos” no código, dando a oportunidade para o programador consertá-los antes que algum usuário os encontre.

estudante fazendo refatoração de código
A refatoração de código é uma prática oferece suporte principalmente os programadores mais iniciantes.

Refatoração como rotina no desenvolvimento

Como vimos, essa prática pode gerar grandes vantagens. No entanto, para que o processo de refatoração funcione corretamente e gere os benefícios esperados, ele precisa ser praticado em todas as circunstâncias.

É necessário que a técnica seja abraçada por todos os envolvidos no processo de construção de software, como engenheiros, analistas, desenvolvedores, testadores e a gerência.

O processo de software da empresa precisa ser alterado (e respeitado) para que sejam introduzidas etapas que disciplinem a refatoração. Por outro lado, os projetos precisam prever, em seus cronogramas, tempo para a realização dessa tarefa.

< Quer saber como otimizar estes processos? Confira este post: Desenvolvimento Ágil de Software: tudo o que você precisa saber sobre a metodologia />

Quais são os desafios da prática da refatoração no dia a dia?

Muito bem. Já falamos sobre os benefícios da refatoração e também sobre a necessidade do apoio de todos para o perfeito funcionamento da técnica.

Poderíamos parar por aqui, e concluir que, se implantado da forma que sugerimos, a refatoração trará enormes benefícios e resolverá quase todos os problemas de uma empresa desenvolvedora de software.

Entretanto, a realidade é um pouco mais complicada que isso.

Muitas organizações possuem regras em seus processos, que formalizam a refatoração. Mas, o que acontece com essas regras quando o projeto atrasa? O que acontece com essas regras quando o maior cliente da empresa pede urgência?

Além disso, existe um tabu muito forte entre os desenvolvedores de software, que é: onde arranjar coragem suficiente para refatorar uma parte crítica do código, quando temos um código-fonte malfeito, mas que funciona?

Esse tipo de questão faz parte do dia a dia de profissionais da área. Assim, é possível encontrar desenvolvedores com ótima técnica, mas que pensam:

“Não mexa no que está quieto”, “Se está funcionando, não vá caçar chifre na cabeça de cavalo!” Ou ainda, “Quem, em sã consciência, mexeria nessa funcionalidade do sistema que é a mais complexa? Deixe como está.”

Por outro lado, também não são raras as situações em que gerentes de projeto atuam da seguinte forma: “Não há tempo para refatoração. O cronograma está apertado e, se tivermos que cortar, será na tarefa prevista para a refatoração.”

Os dilemas envolvidos na prática de profissionais da área

É plenamente possível entender o lado desses dois profissionais, do desenvolvedor e do gerente de projeto.

Afinal, como desenvolvedor, a possibilidade de inserirmos mais problemas que soluções durante a refatoração é enorme, e sabemos quem vai consertar o sistema quando o problema for encontrado.

Como gerente de projetos, é difícil justificar para o cliente um atraso proveniente de uma refatoração, pois essa técnica não traz resultados visíveis para o cliente.

A refatoração não pode alterar o comportamento do sistema, pois se o fizer, deixará de ser refatoração e se tornará uma modificação. Contudo, mesmo não alterando o comportamento do software, precisa ser testada, para comprovar que não inseriu nenhum defeito no sistema, e isso demandará mais tempo ainda.

Engenheiros de software têm uma grande dificuldade em justificar para os gerentes de projeto menos técnicos e para a diretoria, o custo e o tempo gastos com a refatoração.

Essa técnica demanda várias horas de desenvolvedores, que ficam em busca de maneiras de tornar o código-fonte ainda melhor, e de testadores, que precisam garantir que o software não sofreu alterações em seu comportamento.

< Leia também: O que é TDD (Test Driven Development)? Confira tudo que você precisa saber sobre o assunto />

Um investimento que vale a pena

Como sabemos, horas de desenvolvimento custam muito dinheiro, e é uma variável com peso muito alto no custo total do projeto.

Por isso, os profissionais da área precisam se esforçar para justificar tal investimento. Afinal, realizar a refatoração em um software hoje, irá facilitar — e muito — a manutenção do código no futuro.

Porém, também é preciso destacar que há muitos desenvolvedores e gerentes de projeto que são verdadeiros entusiastas da refatoração, principalmente aqueles que já colheram algum fruto proveniente dessa técnica. Esses profissionais têm essa prática como uma constante ação no dia a dia, e a aplicam o tempo todo.

Mas então, devemos refatorar ou não?

Não existe fórmula mágica para implantar a refatoração na cultura de uma organização.

O que fazemos incansavelmente é tentar demonstrar o custo-benefício dessa prática no médio e longo prazo, e desmistificar alguns pensamentos e preconceitos de desenvolvedores e gerentes de projeto, conforme apresentamos acima.

Cabe lembrar que esses pensamentos são compreensíveis diante da realidade do desenvolvimento de software.

Assim, devemos entender que a cultura da refatoração deve ser implantada de grão em grão. Inicialmente, precisamos do apoio e compreensão da direção. Se essa direção não possuir um pensamento proativo e de longo prazo, a possibilidade de fracasso ou de descumprimento das regras do jogo se torna muito grande.

Após conquistarmos esse apoio, entra em ação um plano para convencer os desenvolvedores a mexerem no que está quieto, mas com responsabilidade e senso de melhoria contínua.

Por último, cabe o convencimento dos gerentes de projeto. É importante mostrar que a refatoração não é um custo, mas sim um investimento que trará frutos no futuro. E esse futuro, muitas vezes, não está tão distante, podendo, inclusive, estar dentro do próprio projeto em curso.

Normalmente, quando um gerente de projeto passa pela experiência de viver um benefício trazido pela refatoração dentro de um de seus projetos, ele nunca mais esquece, e muitas vezes até se torna um defensor da causa.

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Como implementar a refatoração de código no dia a dia de uma organização?

Diante de toda essa discussão, é importante ter a clareza de que se fizermos a refatoração da maneira como manda o figurino, ela costuma valer muito a pena. Mas, que maneira correta é essa, afinal?

Primeiramente, o apoio da alta direção e comprometimento de toda a equipe. Depois, a quebra de algumas resistências, que vários profissionais ainda possuem. Por último, apresentação dos resultados da refatoração, para que todos conheçam os seus benefícios.

A refatoração é um caminho sem volta, rumo a um código bem escrito, de qualidade, menos complexo e de mais simples manutenção.

Quer aprender mais sobre o assunto e aprimorar sua prática? O melhor caminho é buscar formações sólidas nesta área. Assim, algumas sugestões promissoras, são:

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Este texto foi escrito pelo professor João Paulo Barbosa Nascimento. Se você gostou do conteúdo, não deixe de compartilhar com seus amigos e colegas de profissão. Assim, todos ficam por dentro da importância da refatoração de código para o desenvolvimento de sistemas otimizados.

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