O que é a curva de juros, como é definida e qual o seu impacto?

A curva de juros é a representação gráfica da projeção do mercado em relação às taxas de juros que um investidor irá receber ao aplicar capital em títulos prefixados, ao longo de um determinado período. 

Como veremos a seguir, ela é construída a partir da estimativa de trajetória da taxa Selic e impacta diversas movimentações financeiras, desde custos de empréstimo até a rentabilidade de investimentos.  Por isso é importante compreender seu funcionamento. 

O que é curva de juros?

A curva de juros apresenta uma estimativa dos juros que investidores irão receber por fazerem uma aplicação financeira dentro de determinada faixa de tempo, podendo ser de um ano, dois anos, cinco anos, 10 anos e por aí vai! 

O gráfico que forma a curva de juros possui dois eixos: um horizontal, que apresenta o prazo ou o tempo, e um vertical que distribui as taxas de juros conforme a previsão do mercado. 

Quando usamos a curva de juros para avaliar investimentos é necessário observar primeiro o prazo que você deseja manter o capital aplicado. O próximo passo é identificar a taxa de juros que será paga. 

Observe o exemplo abaixo de uma curva de juros: um investidor que deseja realizar um investimento por um ano terá uma rentabilidade de 9%, já os investimentos com vencimento em três anos oferecem uma taxa de juros de 10,1%. 

Resumindo, ao olhar para a curva de juros um investidor é capaz de estimar o percentual relativo aos juros que ele irá receber por fazer um aporte em investimentos prefixados, de acordo com o período em que o capital ficará aplicado. 

Ao aplicar em um título com taxa de juros prefixada, para retirada e rentabilidade futura, você está de fato assinando um tipo de contrato futuro de juros (ou DI), que garante a recompra do título, pelo emissor, pelo valor acordado, ou seja, pela taxa que foi assegurada ao investidor. 

O mercado futuro e a compra de títulos por meio deste tipo de contrato, garantem a sua proteção em relação à oscilação das taxas de juros. Ou seja, mesmo que a taxa de juros caia durante o período em que o capital está aplicado, o contrato do título prefixado assegura que na data do vencimento, o emissor irá pagar a taxa pré acordada.

Entretanto, caso a taxa de juros suba, com um contrato prefixado você não tem acesso a taxas atualizadas. Ele mantém a rentabilidade conforme o contrato. Falaremos mais sobre isso, adiante.

Por ser criada a partir de expectativas do mercado, a curva de juros pode variar ao longo do tempo e isso pode impactar seus investimentos, valorizando ou desvalorizando seus títulos. 

Como a curva de juros é definida? 

Entendido o que é curva de juros a pergunta que fica é: como o mercado constrói a curva de juros? 

A curva de juros é construída a partir da expectativa do mercado em relação à trajetória da taxa Selic para os próximos períodos. Vale lembrar que essa é a taxa básica de juros do país.

A trajetória da Selic é estimada a partir da taxa atual. Com essa informação, o mercado faz uma estimativa de qual vai ser o comportamento da Selic a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que ocorre, em média, a cada 45 dias. O Copom é quem define a taxa Selic. 

Tendo em mãos as projeções para a taxa Selic, é calculada a média da taxa para o período que o mercado deseja avaliar, que pode ser para um ano, dois anos, três anos, 10 anos, 30 anos etc. 

Para se ter uma ideia, países com economias estáveis, como os Estados Unidos, projetam suas curvas de juros para até 50 anos!

Os valores médios e estimados da Selic são inseridos no gráfico da curva de juros, na linha vertical. Enquanto na horizontal está o tempo ao qual correspondem.

Essa expectativa para a variação da taxa de juros ao longo dos períodos cria uma curva dentro do gráfico. 

Como veremos a seguir, exatamente por ser baseada em estimativas e projeções, essa curva pode sofrer variações que impactam a rentabilidade dos seus investimentos. 

Além disso, é importante considerar a possibilidade de uma curva invertida, que ocorre quando o mercado começa a estimar que a Selic vai cair. 

>>> Leia também: O que acontece com a queda da taxa Selic para os investidores?

Como a curva de juros impacta nos investimentos? 

Vamos imaginar que você deseja realizar um investimento com rentabilidade pré-fixada para retirada do capital em cinco anos. Qual é a taxa que esse título irá te pagar ao final do período? Acertou quem respondeu: a taxa que a curva de juros indicar para daqui cinco anos.  

Existem diferentes maneiras da curva de juros impactar os resultados dos investimentos. Citamos algumas, a seguir. 

Relação tempo x taxa de juros

Geralmente, títulos com maior prazo de vencimento possuem taxas estimadas maiores, devido a lógica de quanto maior o prazo maior o risco, exceto quando o mercado começa projetar queda na Selic. 

Nesses casos, o gráfico pode apresentar uma curva invertida. Em situações assim, um investimento de cinco anos pode até mesmo pagar menos que um título de três anos.

Mudanças na curva por aumento de risco

A curva de juros baseada na Selic é, majoritariamente, para os títulos do governo, o que a torna base para todos os investimentos da economia, entre eles CDBs prefixados e Tesouro prefixado. 

Questões como mudanças na perspectiva da inflação e no cenário político podem impactar a previsão criada para a curva de juros.

Isso porque, quando o mercado identifica um maior risco de investimento no Brasil, há uma subida da curva de juros. Por que?

O raciocínio é o mesmo usado por bancos para emprestar dinheiro para alguém. Se a instituição identifica um risco alto em emprestar dinheiro para um cliente (devido a algum histórico de não pagamento de compromissos financeiros, por exemplo) as taxas de juros cobradas serão maiores para compensar o risco. Se o risco de empréstimo é baixo, as taxas de juros cobradas também são mais baixas. 

Agora voltando ao cenário em que você é um investidor e que comprar um título do Tesouro Direto, por exemplo, significa que você emprestando dinheiro ao governo em um momento em que o mercado está indicando risco, as taxas de juros também devem ser maiores para incentivar os investidores a realizarem aplicações e também a manterem as já realizadas. 

Em resumo, quando o risco aumenta, a curva de juros sobe e isso impacta na rentabilidade de seus títulos.

Avaliação de títulos prefixados

A curva de juros também deve ser avaliada para a identificação de oportunidades de investimento em títulos como o Tesouro pre-fixado. 

Ao comprar esse tipo de título você fixa o percentual de rentabilidade do capital investido, o que pode ser muito bom ou muito ruim.  

Imagine que a tendência para a taxa de juros no futuro seja  de queda.  Nesse cas,  é válido optar por um investimento com juros prefixados, porque você vai aproveitar uma taxa de juros melhor.

Logo, é um tipo de investimento interessante para investidores que acreditam que a Selic irá cair, levando com ela a taxa de juros, e querem garantir uma rentabilidade mais alta. 

Entretanto, investir em um título pré-fixado também diz que se a taxa de juros aumentar, a sua lucratividade não aumentará junto, afinal, ela foi combinada no momento da compra do título. 

Logo, avaliar a curva de juros contribui para que você tome decisões sobre a vantagem ou desvantagem de investir em títulos prefixados.  

Alterações de rentabilidade devido à  abertura e fechamento da curva

Mais um impacto da curva de juros nos investimentos está atrelada, justamente, ao fato dela variar ao longo do tempo.

Quando há esse tipo de variação, é comum ouvirmos termos como abertura e fechamento da curva. Ambos significam que houve uma mudança de expectativas sobre a taxa estimada. 

A abertura na curva indica que a perspectiva para o futuro é que as taxas de juros aumentem, logo, as aplicações se tornam mais atraentes, prometendo maior rentabilidade para novos investidores. 

Porém, quem investiu, antes da abertura da curva, em um ativo com a taxa de retorno prefixada, não vai ganhar mais com o aumento dos juros.  

Já o fechamento da curva mostra o contrário: a compra do título é menos atraente, mas quem já tem o título Tesouro Prefixado já garantiu uma taxa de juros melhor, no momento da compra do ativo. 

Variação da taxa Selic na renda variável

A taxa Selic está sim muito mais atrelada à renda fixa do que aos títulos da renda variável, entretanto, a previsão da curva de juros também impacta as oportunidades de investimento em ações

Como o relatório da XP mostra, a alta nos juros de longo prazo também impacta a renda variável. O movimento, resumidamente é:

  • o rendimento dos títulos soberanos se torna maior,
  •  o custo de capital das empresas, que considera os juros de empréstimos, sobe,
  • a taxa de desconto usada para trazer o fluxo de caixa projetado daquela empresa a valor presente, sobe. 
  • como resultado, o preço da ação cai.

Entendendo alguns movimentos da curva de juros [glossário]

Se você chegou até aqui quer dizer que já avançou na compreensão em torno do que é curva de juros e como ela impacta nos seus investimentos. Isso é ótimo!

Para que você possa se sentir ainda mais seguro e possa avançar na busca por maiores rentabilidades, te indicamos dois cursos da Xpeed School:

Mas, calma, porque ainda não acabou! Ao pesquisar sobre o assunto, você pode se deparar com alguns termos relacionados à análise da movimentação da curva de juros. São termos técnicos, mas que são úteis conforme você avança no aprendizado sobre investimentos. 

Por isso, criamos um breve glossário, com os nomes relacionados à movimentação geral da curva de juros. Assim você pode consultar sempre que ficar em dúvida em relação aos nomes dessas análises. Confira! 

  • Steepening: ocorre quando a curva de juros ganha inclinação, ou seja, há um aumento da diferença entre as taxas de investimentos de curto prazo e taxas de longo prazo. 
  • Bear steepening: é o movimento da curva de juros quando há uma maior alta dos juros de longo prazo do que a alta dos juros de curto prazo. Geralmente ocorre quando o mercado se preocupa com a inflação e acredita no aumento da Selic. 
  • Bull steepening: as taxas de investimentos de curto prazo caem mais que as taxas de longo prazo, e o mercado acredita que haverá redução na Selic. 
  • Flattening: é o oposto do steepening, ou seja, é a perda de inclinação da curva. Isso representa a diminuição da diferença entre as taxas de juros de curto e longo prazo, 
  • Bull flattening: quando as taxas de longo prazo são reduzidas mais do que as de curto prazo. Indica que o mercado espera que a inflação caia no longo prazo.
  • Bear flattening: as taxas de curto prazo sobem mais que as de longo prazo, indicando retração na economia.

Entendi o que é curva de juros, e agora?

Esperamos que até aqui você tenha compreendido o que é curva de juros e como este gráfico base é importante, impactando decisões futuras e rendimentos que já estão aplicados. 

A curva de juros não está relacionada apenas a investimentos, mas a toda a movimentação da economia brasileira. Conforme você avança nessa área, mais vai precisar estar por dentro do que ocorre no setor. Por isso, para fechar este artigo, te convidamos a conhecer o curso:Cenários e investimentos: macroeconomia para investidores

 Inscreva-se  e  comece a expandir seu conhecimento sobre o mercado financeiro. Bons estudos!

Continue Aprendendo

spot_img