O que é design universal? E quais são seus princípios?

É provável que você já tenha usado o termo “público-alvo” em alguma reunião de planejamento, trabalho de escola ou até mesmo em casa. De tão difundido, este pode parecer ser um conceito bem resolvido na cabeça das pessoas.

No entanto, algum dia, você já parou para se perguntar quem é, de fato, esse tal de público-alvo? Onde vivem? Como se alimentam? Como se comportam enquanto usuários? 

Brincadeiras à parte, nosso objetivo é refletir sobre outro conceito que pode levar o público-alvo à extinção: o Design Universal.

Ao lado do design universal e acessibilidade, diversidade é a palavra de ordem dos dias atuais. Sendo assim, os produtos digitais não podem passar longe dessa tendência que veio para ficar.

Não só as pessoas com deficiência. Os idosos, estrangeiros (que ainda não dominam o idioma local) e até indivíduos com deficiência temporária ganharam, com razão, cada vez mais espaço, seja no mercado de trabalho ou na sociedade em geral.

Não é segredo que os espaços urbanos e seus equipamentos estão, ainda que timidamente, sendo adaptados para atender a esses públicos. Muito disso se deve ao desenho universal e à acessibilidade.

Podemos perceber que diferentes objetos, como aparelhos eletrônicos, automóveis, ônibus, banheiros e carteiras escolares possuem alguma adaptação para que as pessoas com deficiência consigam utilizá-los.

No campo do design e experiência do usuário online, existe uma corrente que pode parecer um pouco estranha para os próprios designers, desenvolvedores, publicitários e diretores de criação:

“Esqueça o público-alvo. Seu design é para todos… e para qualquer um!”

Mas, afinal, o que é o conceito de Design Universal? Como funciona e quais são os princípios do Desenho Universal? Acompanhe a leitura para descobrir!

O que é Design Universal?

O Design Universal (D.U), também chamado de Design Total e Design Inclusivo, sustenta a ideia de projetar (ou no inglês, to design) produtos, serviços, ambientes e interfaces que possam ser usadas pelo maior número de pessoas possível.

Ou seja, não importa as suas capacidades físico-motoras, idade ou habilidades, o seu design é para todos e para qualquer um!

O arquiteto americano Ronald Mace criou o conceito de Design Universal para descrever a criação de produtos e ambientes cuja estética e usabilidade são oferecidas a todos, independentemente da sua idade, habilidade ou condições.

Ele também foi um defensor dos direitos das pessoas com deficiência, uma marca muito importante em seu trabalho.

O campo do Design Universal sugere que o designer, projetista ou arquiteto se baseie em algumas “normas” que norteiam a criação de um produto, que ficaram conhecidos como os princípios do Design Universal:

  1. uso equitativo;
  2. uso flexível;
  3. uso simples e intuitivo;
  4. informação perceptível;
  5. tolerância ao erro;
  6. baixo esforço físico;
  7. tamanho e espaço para aproximação e uso.

São fruto de um estudo conduzido por um grupo multidisciplinar formado por arquitetos, engenheiros e designers, com o intuito de servir como guia a um vasto leque de outras disciplinas.

Qual a diferença entre Design universal, acessibilidade e usabilidade?

Para algumas pessoas pode ser difícil enxergar as fronteiras entre Design Universal, Acessibilidade e Usabilidade. Portanto, uma dica é pensar assim:

  • acessibilidade: se preocupa com a qualidade do acesso para qualquer pessoa (premissa básica para o próximo item);
  • usabilidade: uma vez garantido o acesso, estuda-se o perfil do usuário, a fim de propor a melhor qualidade de uso;
  • design universal:  se preocupa em fazer com que o produto seja acessado e usado por qualquer um, qualquer um mesmo, respeitando os 7 princípios do Design Universal.

Dá para perceber que um produto que possui um desenho universal não precisa de adaptações ou nem ajustes para que uma pessoa deficiente possa utilizá-lo. Isso significa que o mesmo produto pode ser usado por pessoas com ou sem deficiência física e dos mais variados biotipos.

Antes que você se preocupe em refazer um projeto do zero, é bom saber o seguinte: praticar Design Universal não quer dizer que qualquer produto ou ambiente possa sempre ser usado por todas as pessoas, em quaisquer condições. 

É por isso que é mais apropriado considerar o Design Universal não como uma meta a ser atingida, mas sim, como uma visão, um processo a ser adotado em todo o ciclo de vida do produto

Ou seja, o conceito de desenho universal é uma mudança de postura de mercado!

Como o design universal funciona na prática?

A Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, possui um centro de estudos chamado The Center for Universal Design (CUD), que tem como missão ser um centro de pesquisa, análise, desenvolvimento e promoção do Design Universal, tanto em produtos quanto em espaços públicos e domésticos.

Em 1997, a universidade lançou uma publicação na qual definiu os 7 famosos princípios do Design Universal que citamos anteriormente. Logo abaixo, vamos detalhá-los um por um, mas é bom entender primeiro como organizaram cada princípio.

  • Nome e número do princípio: serve para ajudar na assimilação;
  • Definição do princípio: é uma breve descrição das diretivas básicas;
  • Recomendações: uma lista de elementos-chave que devem estar presentes no design de um produto ou serviço.

É bom lembrar que nem todas as recomendações podem ser relevantes a todos os tipos de projeto. Agora, vamos aos princípios do Design Universal!

Princípios do Design Universal

Princípio 1: uso equitativo

Portas automáticas são convenientes para todos os clientes, especialmente, aqueles com as mãos ocupadas.

Definição: o design deve ser útil e comercializável às pessoas com habilidades diversas.

Recomendações:

  • fornecer os mesmos meios de utilização para todos os usuários: idêntico sempre que possível ou equivalente quando não;
  • evitar segregar ou estigmatizar quaisquer usuários;
  • promover privacidade, segurança e proteção igualmente a todos os usuários;
  • oferecer um design atraente para todos os usuários.

Princípio 2: uso flexível

Tesouras com encaixes maiores proporcionam o uso com as duas mãos, permitindo que possamos alterná-las durante as tarefas muito repetitivas.

Definição: o design deve acomodar uma ampla gama de habilidades e preferências individuais.

Recomendações:

  • oferecer a possibilidade de escolha de métodos de utilização;
  • oferecer a possibilidade do uso por pessoas destras ou canhotas;
  • possibilitar a precisão e acurácia do usuário;
  • oferecer a capacidade de adaptação ao ritmo do usuário.

< Dica de leitura: o que é e o que faz um profissional de Product Designer? / >

Princípio 3: uso simples e intuitivo

Em estações de emergência, o uso de cores e símbolos altamente conhecidos permite aos transeuntes reconhecer os controles disponíveis de modo mais fácil.

Definição: o uso do produto deve ser fácil de entender, independentemente da experiência, conhecimento, competências linguísticas ou nível de concentração atual do usuário.

Recomendações:

  • eliminar a complexidade desnecessária;
  • oferecer consistência com a intuição e as expectativas dos usuários;
  • acomodar uma ampla gama de competências linguísticas e alfabetização;
  • organizar as informações em consistência com a sua importância;
  • fornecer mensagens eficazes de aviso e de informação, durante e após a conclusão da tarefa.

Princípio 4: informação perceptível

Pequenas ranhuras no teclado do celular revelam onde estão as funções mais importantes, sem que o usuário tenha que olhar para as teclas.

Definição: o produto deve comunicar ao usuário todas as informações necessárias de forma efetiva, independentemente das suas condições ambientais ou habilidades sensoriais.

Recomendações:

  • usar diferentes modos (pictórica, verbal, tátil) para apresentação redundante de informações essenciais;
  • fornecer uma diferenciação adequada entre informações essenciais e acessórias;
  • maximizar a legibilidade de informações essenciais;
  • diferenciar elementos de maneira que possam ser facilmente assimilados;
  • fornecer compatibilidade com uma variedade de técnicas ou dispositivos utilizados por pessoas com limitações sensoriais.

Princípio 5: tolerância a erros

Em uma pistola de pregos, uma sequência de segurança requer que o usuário primeiro pressione a trava de segurança para só então puxar o gatilho. Isso minimiza a chance do usuário atirar em alguém ou em algum objeto por acidente.

Definição: o design deve minimizar os riscos e as consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais.

Recomendações:

  • organizar elementos para minimizar erros e riscos: os elementos mais usados, mais acessíveis; elementos perigosos eliminados, isolados ou blindados;
  • fornecer avisos quanto aos erros e aos riscos;
  • fornecer recursos à prova de erros;
  • evitar ações inconscientes em tarefas que exigem maior atenção e vigilância.

Princípio 6: baixo esforço físico

A maçaneta não requer um que o usuário segure-a totalmente para ser aberta. Neste exemplo, ela ainda pode ser usada com a mão fechada ou mesmo com o cotovelo.

Definição: o produto pode ser usado eficiente e confortavelmente, com um mínimo de fadiga.

Recomendações:

  • permitir que o usuário mantenha uma posição corporal neutra;
  • racionalizar a força necessária para sua operação;
  • minimizar ações repetitivas;
  • minimizar o esforço físico permanente.

Princípio 7: tamanho e espaço para aproximação e uso

Portas largas nas estações de metrô podem acomodar cadeirantes, bem como trabalhadores com pacotes ou bagagem.

Definição: oferecer espaço e tamanho apropriados para aproximação, alcance, manipulação e uso independentemente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade do usuário.

Recomendações:

  • oferecer uma linha clara de visão dos elementos mais importantes para qualquer usuário, esteja sentado ou de pé;
  • oferecer o alcance a todos os elementos de maneira confortável para qualquer usuário, esteja ele sentado ou em pé;
  • acomodar variações de mão e punho;
  • fornecer espaço adequado para o uso de dispositivos de auxílio ou assistência pessoal.

Os princípios acima são uma tradução livre da cartilha divulgada pelo CUD. Para baixar a cartilha original em inglês, clique aqui.

Imagens: The Center for Universal Design (1997). The Principles of Universal Design, Version 2.0. Raleigh, NC: North Carolina State University.

Um dos objetivos deste artigo é para que possamos repensar em nossa postura como desenvolvedor, designer e cidadão. Ou, pelo menos, para que o conceito e os princípios do Design Universal tenham plantado uma semente para uma nova forma de pensar ao elaborar projetos de UX, por exemplo.

< Não deixe de ler: o que é User Experience? Como seguir carreira em UX? / >

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